Na linha do tempo foi assim: eu fiz a prova pro mestrado em setembro, encerrei todos os contratos que eu tinha para publis em dezembro e, em janeiro, eu comecei uma vida nova: sentada com uma planilha de gastos e custos da empresa (sim, eu ainda tenho empresa!) pensando qual a magia financeira eu ia precisar fazer pra fazer de 2024 um ano de transição. Influencer aposentada, consultora de moda repensando a carreira. Há 6 meses não faço um publi.
Voltando nos meus diários, (e ainda bem que eu faço diário, gente, porque foi um início de ano tão intenso e tão introspectivo que, se não fosse o diário e a terapia, eu teria desabafado até com o moço que vem fazer a entrega do Mercado Livre, coitado) eu me dei conta que comecei o ano já trabalhando com a ON e encerrando um trabalho com as Havaianas. É impressionante como eu sempre acho que eu tô mais à toa do que eu tô. Ainda bem que eu anoto.
Nesse primeiro semestre eu também fiz um trabalho pro Mercado Livre - e segui dando consultoria pra ON. A comunidade seguiu firme e forte e eu abri mais uma turma do "Encontre seu Estilo". Em março comecei o mestrado e, semana passada, terminei todas as matérias do primeiro período. Fiz zilhões de cursos (e dá pra ler mais sobre isso na news sobre estudar) e ajudei vários amigos a pensar o negócio deles: eu amo pensar junto, principalmente por hobby haha.
Fui convidada pra dois eventos de gênero da ONU, um deles em NY, e gravei mais uma temporada do Berlinda. Passei também por uma mentoria (também já falei disso lá no post sobre estudar) e consegui escrever essa newsletter com regularidade. Entrei pro Linkedin - ainda que meio sem saber direito como funciona a plataforma, com um perfil mal construído e a certeza de que tô fazendo tudo errado por lá, mas que já me rendeu coisas bem legais.
Fui convidada pra um projeto bem legal que rola em julho e acho que essa vai ser a cereja que encerra a fase 1 desse meu ano.
Mas, entendi esses dias, que, na real, o que eu mais fiz nesses primeiros 6 meses foi organizar minha cabeça. Eu sou muito da produtividade, é muito-muito-muito difícil pra mim esses momentos (que já vivi algumas vezes) de espera. O meu impulso é sempre o de fazer e, nesse ano, eu não tô fazendo muito. Eu sei, mestrado é um trabalho que tem uma produção palpável. Mas é diferente porque é um ritmo completamente outro, que não rende dinheiro (eu, estrategicamente, não concorri pra nenhuma bolsa). E eu também fiz algumas consultorias pra marcas, mas eu não acelerei e nem prospectei, como eu faria em outros momentos. Eu fiz o que apareceu e foi maravilhoso, mas não fiz nada extra porque o meu foco era estudar: tanto pra fazer um mestrado bem feito, quanto pra chegar no ano que vem sabendo bem o que eu quero fazer no mercado. Resumindo, passei os últimos 6 meses me lembrando que tenho uma estratégia e que eu precisava desse tempo pra colocá-la em prática. Que "sair fazendo" não renderia o resultado que eu quero no longo prazo. Não foi fácil, mas tô orgulhosa por ter conseguido.
Admito que a gravidez deu uma forcinha pra eu seguir o plano. Eu não sou uma grávida solar e animada, eu tenho TODOS os desconfortos possíveis. Nada sério e nem nada grave, mas tudo quanto é sintoma desconfortável eu tenho. Eu perco o carisma e odeio, odeio, odeio me vestir na gravidez. E isso impacta demais no meu trabalho, minha relação com a moda não é só intelectual, ela passa muito pelo meu corpo, pela minha vivência. Sentindo desconforto e sem vontade vestir nada, eu mal saí de casa. Só fiz o que era trabalho/mestrado e todo o resto eu cancelei. E, pra além disso, minha mudança de carreira, plano futuro, inclui uma mudança bem importante:
Eu quero, no ano que vem, trabalhar em alguma empresa.
Nos últimos 10 anos eu empreendi e também nos últimos 10 anos eu vim crescendo. E eu aprendi demais fazendo do meu jeito, criando empresas, inventando modelos de negócio que funcionavam pra minha vida. Foi muito importante. Mesmo. Mas agora eu quero fazer de outro jeito, quero pensar projetos que não são meus e estar em estruturas que me permitam fazer coisas maiores. Quero trabalhar em uma empresa, entender e aprender melhor sobre esse universo. Tem muita coisa para a qual não tem curso, só a vida real ensina. E, pra aprender melhor sobre marcas, consumo e comportamento, sinto que esse é o caminho. Tô animada, já criei uma lista de lugares onde irei pedir emprego depois que da licença maternidade. Mas ainda tá cedo pra falar disso.
Sobre o mestrado, sinto que ele me demandou menos do que eu esperava. Veja bem, foi só o primeiro período e eu só fiz 2 matérias. Eu já tinha um ritmo intenso de leitura, sempre estudei muito sozinha e eu tava preparada pra estudar mais e ter mais demandas… não tive. Tenho ainda um trabalho pra entregar em julho, mas já não tenho mais aula. Vou aproveitar esse período sem matéria pra organizar melhor minha pesquisa, focar em ler e organizar meu referencial teórico. Tenho muito artigo científico pra estudar, tenho muita coisa pra aprender sobre antropologia, que tem aparecido como uma ciência importante na minha pesquisa. Não é porque to sem aula que to sem trabalho.
Admito que quando me dei conta que o junho estava acabando, me bateu uma frustração porque eu queria ter estudado mais do que estudei. Tenho uma enorme lista de "não deu tempo de fazer". Mas é isso, fiz o melhor que deu. O tempo de organizar mentalmente e emocionalmente a mudança não pode ser ignorado, dá muito trabalho (interno) desapegar do que já foi, inventar o que vai vir. Eu sofri de verdade com as pessoas que me descartaram com a mudança de rota, precisei viver esse luto. E eu agora quero mesmo, de verdade, deixar um pouco a vida me mostrar o caminho, muita coisa incrível aconteceu comigo quando eu não tava planejando tudo e controlando tudo. Então to também abrindo espaço pra novidade chegar.
Pra complementar essa news, pedi pra vocês mandarem algumas coisas que queria saber melhor sobre esse período, escolhi algumas mensagens pra responder!
Eu sempre soube que eu não ia durar muito como influencer. E sempre guardei dinheiro pra isso. Lembro uma vez, voltando de um evento chatérrimo, eu falei com a pessoa que trabalhava comigo na época "eu sou muito agradecida por poder ganhar esse dinheiro e, apesar de não curtir, eu faço com o maior profissionalismo possível porque eu sei que essa grana não é normal, não se ganha assim em todas as profissões - dirá em moda, dirá no Brasil. Então eu tô muito atenta porque eu sei que uma hora vai acabar". Eu penso muito nesse dia porque eu achei que eu ia parar de ser chamada antes de eu cansar, eu não percebi o caldo entornando (foi igual quando saí de cinema), eu só vi quando já tinha entornado. Tem um episódio do Projeto Piloto com a Karol Pinheiro que eu falo sobre isso, sobre estar cansada de "ser o produto". E eu sou muito ruim de planejar a mudança, mas eu sou muito boa de perceber meus incômodos. Eu não escolhi sair, eu saí quando percebi que influência era um jogo que eu não queria mais jogar, que tava me fazendo mal, me consumindo, levando de mim coisas que me são muito caras. Na consultoria de moda, foi diferente, eu fui me sentindo sem desafio. Eu já tinha feito muitaaaas clientes e eu já sabia no primeiro "oi" com a cliente o que ela precisava, como íamos resolver. E eu curto desafio. Eu até sinto saudade de atender, eu acho que estar com pessoas reais, que consomem moda, é um diferencial imenso no que eu ofereço hoje no meu trabalho com marcas, mas ainda não sei como vou organizar todas essas coisas haha. Resumindo: eu pude guardar o dinheiro de influencer pra mudar de caminho. Um privilégio enorme, mas também um enorme compromisso comigo mesma e com o que eu quero pra minha vida.
Eu trabalhei bem pouco esse ano, já falei muitoooo disso. Não prospectei nada, fiz o que chegou e vieram de vários jeitos: de indicação, um trabalho puxou o outro, teve um post que fiz sobre abadá no IG que me rendeu um job, o Linkedin também me rendeu trabalho. Mas nesse ano a prioridade é estudar. Só por isso funcionou. Minhas aulas na USP eram segunda e terça de 14h às 16h. Pense! O mestrado me demandou menos do que eu imaginava, já falei ali em cima, achei esse primeiro período tranquilíssimo. E, SEM DÚVIDA, o mestrado faz diferença em qualquer carreira. É tristíssimo esse pensamento de que se o mestrado não "ganha pontos" pra uma seleção ou pra aumentar o salário, ele não serve no mercado. A quantidade de estudo, de aprofundamento, de pesquisa séria, de dedicação a um tema, serve NO MÍNIMO pra ser uma pessoa menos rasa no trabalho. Eu vejo, por exemplo, umas discussões rolando no mercado de trabalho que são super antigas, atrasadas, com dados errados, mas que são feitas porque todo mundo olhou pro tema de um jeito superficial, com informações do Google. Não abriu um livro, não olhou pra nada do que foi estudado antes. E eu vejo coisa que eu mesma já falei, já escrevi e que, se eu já tivesse aprendido a estudar profundamente um tema, eu teria feito diferente. E olha que eu sempre estudei muito. Eu sinto que eu vou ser muito melhor em qualquer coisa que eu fizer porque eu aprendi a pesquisar e a embasar cientificamente um tema. Isso muda o modelo de pensamento e não é pouca coisa. Mas também não acho que mestrado é pra todo mundo, acho que estudar desse jeito é pra quem tem vocação, mesmo, porque é treta. E tem muita coisa no mundo que não precisa ser feita desse jeito. Não é melhor ou pior, mas pra profissional que eu sou e quero ser, o mestrado muda tudo.
Já respondi um pouco ali em cima sobre isso, mas queria acrescentar que eu acredito que a magia da coisa é conseguir estudar coisas complexas e traduzir de jeitos simples - na newsletter ou em qualquer lugar onde eu esteja trabalhando. Michel Alcoforado é um gênio e faz isso muito bem, por exemplo. Eu to amando embasar melhor o que penso e, inclusive, mudar de ideia sobre as certezas que eu tinha. O meu maior conforto nesses tempos "meio fora do IG" foi Byng-Chul Han, que eu poderia ter lido sem estar na USP, ele é bem fácil de ler, mas que foi muito mais legal porque eu pude ter discussões sobre ele tanto lá, quanto no grupo de estudos que faço parte. Mas é isso, eu sempre quis fazer mestrado, eu amo estudar, eu acho um luxo imenso e um privilégio maior ainda poder pesquisar um tema pelo qual eu sou apaixonada. Feliz de saber que to conseguindo deixar a newsletter mais legal :)
Desafiador: abrir mão do dinheiro, do poder, de ser convidada pros eventos. Perder relevância, "amigos", reconhecer como fui produto pra muita gente. Tem um ego gritando todo dia que to louca, que preciso andar pra trás. É dificílimo, mas é parte importante do processo e eu gosto mais de ser quem eu sou hoje.
Maravilhoso: ter tempo de introspecção, tempo pra pensar, não precisar ter opinião sobre tudo imediatamente, não dar satisfação pra seguidor e não me sentir julgado o tempo inteiro. Ter outra relação com o tempo é muito especial, o mestrado tem me dado isso. Eu tenho tempo de ler, discutir, pensar, repensar, ler um autor que diz o contrário. E mudar a direção da minha carreira traz o mesmo: um mundo novo se abriu e todo dia eu aprendo coisas legais.
Eu acho que tem tanta coisa nessa pergunta e nessa resposta, mas vou falar só por mim. Eu tenho m-u-i-t-o-s privilégios e eu tenho uma vida onde eu sou parte da minha família. O que eu quero dizer com isso: eu sou tão prioridade quanto as crianças e meu marido. Meu papel na família não é servir a eles, fazê-los felizes. A gente é uma família e tem que caber todo mundo, por inteiro. É óbvio que não tem magia e eu fico, sim, mais sobrecarregada. Cansadérrima. Mas eu brigo muito pelo meu espaço e todo mundo aqui em casa tá muito acostumado com os constantes reajustes de rota e também muito disponível para repensar a dinâmica. As crianças se orgulham muito de mim, contam pra todo mundo dos meus trabalhos, que eu passei no mestrado... E isso, pra mim, também é educar.
A outra coisa é que eu gosto de ser mãe, a maternidade não é dificílima pra mim. É desafiador, mas não é um sofrimento. Porque, além dos MUITOS privilégios, eu dei sorte de curtir muito ter filho. Porque foi sorte. Quando eu tive o Miguel eu não tinha repertório pra decidir, pra saber que ser mãe seria uma parte tão importante de quem eu sou. Eu poderia ter odiado. Há 10 anos não se falava tanto de maternidade compulsória, sobre as dificuldades e desigualdades que as mulheres sofrem no mercado de trabalho. Mas gostar de ser mãe facilita muitoooooo. E não gostar de ser mãe/se arrepender não é só sobre estar sobrecarregada, tem muito, sim, da sobrecarga e sobre como a sociedade trata as mães, mas tem também outras mil variáveis: abrir mão de pensar só em você, fazer programas infantis, educar, ter um compromisso para sempre com essas pessoinhas.. ter filho é mto treta, tem que querer demais, a vida muda completamente e pra sempre. Vira outro ritmo, outro lifestyle, não é pouca coisa. Não é mesmo todo mundo que é feliz nessa equação.
Sobre a gravidez, eu achei que seria mais fácil estar grávida nesse ano de entressafra e eu não penso no longo prazo. Eu penso no próximo semestre. Vou vivendo uma fase de cada vez porque sei que um filho a mais na equação muda absolutamente tudo, vamos esperar nascer e eu vou vendo como fazer.
De novo: só é possível porque eu pude não trabalhar tanto, porque eu vivo uma vida com muitos privilégios, porque eu não sou a única cuidadora dos meus filhos. Não tem milagre.
Não tem equilíbrio, tem prioridades. Esse ano eu fiquei, praticamente, sem vida social. Usei todo tempo livre possível pra estudar e conversar com pessoas queridas sobre o futuro. Trabalhei muito pouco. Isso não é equilíbrio e eu nem sei se acredito em ter tudo equilibrado. Minha prioridade esse ano é: minha família (que como eu disse lá em cima, me inclui) e estudar. E não como pensar em prioridade se não tem dinheiro pra pagar contas. Eu só fiz mestrado quando pude diminuir o ritmo de trabalho. Ano que vem, que em tese eu volto com tudo, vai ser um deus nos acuda e aí eu vou precisar priorizar outras coisas, dar outros jeitos. Mas, já vai ter feito muita diferença ter vivido um primeiro ano de mestrado mais focada.
Ufa. É isso. A maior news da história das minhas news. Vou terminar citando uma frase que li no Substack da Liz Gilbert, mas que é da Deborah Levy
“Freedom is never free. Anyone who has struggled to be free knows how much it costs”
Liberdade nunca é de graça. Qualquer um que já lutou pra ser livre sabe quanto ela custa - em tradução livre
Eu penso muito sobre esse preço, mesmo achando que falta muito pra que eu me sinta livre, mesmo. Mas é sempre meu norte, o que me guia, pra onde eu olho. O que, pra mim, é ser livre? E qual o preço eu preciso pagar pra chegar perto disso? É assim que me sinto agora.
Continuamos o bate papo nos comentários! :)
Thais,
Essa News teve um gosto diferente pra mim. Também estou em um ano de "entre-safra" - ano passo fiz mestrado + trabalho, mas no fim do ano saí do trabalho e estou 100% no mestrado. No meu caso, com bolsa e grana guardada mas aprendendo a viver com bem menos (e aproveitando para repensar o consumo, com gosto e na marra).
Obrigada por compartilhar suas reflexões sobre esse tempo :)
As vezes me perco no "vir a ser" que ele representa, e escapo um pouco do quanto estar no presente é único e maravilhoso. Um privilégio mesmo.
Eu li a News toda e fiquei me perguntando o tempo todo: “mas gente… essa mulher tem energia de sobra para fazer tanta coisa, porque será que ela sente que ‘não está trabalhando’?”
Eu percebi que, também como você, eu associo trabalho a remuneração financeira. Se tem dinheiro, é trabalho. Me fez pensar que essa separação é saudável (associar trabalho a algo que me remunere), mas também me deixou na dúvida: é o que não me remunera, é o que?! Como voce mesma escreveu: “se não tivesse feito um diário, teria ficado com a impressão que não fiz nada…”
Me trouxe excelentes reflexões sobre dinheiro, trabalho e dar nome para as coisas.