Hoje eu vou puxar o papo newsletter. É uma newsletter, justamente, pra falar sobre o plano de newsletter. A ideia era trazer essa conversa na primeira semana de junho porque, parte do meu planejamento aqui, é ter um grande tema pra cada semana do mês e esse tema "internet" não era hoje. Porém, eu não sou refém do planejamento. Eu organizo e desenho o formato muito mais pra me guiar e eu não sentar na frente do computador completamente perdida e também pra newsletter cumprir a função que eu acredito que ela tenha que ter. Mas, as coisas mudam e essa é a maior delícia de ser minha chefe, de não ter prazo, horário, só os que eu defini. Tem milhares de contras, mas eu gosto de aproveitar os prós. Sendo assim, vamos ao assunto do dia :)
Vou começar do começo: eu tenho newsletter há muito tempo! Inclusive, já escrevi edições que foram muitoooo compartilhadas e que me pedem até hoje pra ter repeteco - tem uma sobre como fazer camadas de roupas pro inverno e também uma outra sobre o que significa a ideia de "urbanidade" no estilo pessoal. Prometo, inclusive, que em algum momento esse ano eu atualizo ambas e reenvio. O problema é que eu sempre estava fazendo muitas coisas e eu nunca conseguia ter uma frequência na newsletter. Aparecia um mês e sumia outros dois. E isso me incomodava muito porque, de verdade, eu gosto infinitamente mais de estar aqui, escrevendo, que fazendo vídeo de 30 segundos no instagram. Durante muito tempo eu realmente priorizei o instagram e, não tenho dúvidas, ele foi muito importante pra minha carreira. Como eu nunca topei delegar nem o instagram e nem a newsletter, era aqui que eu faltava sempre. (Lembrei agora de um planejamento estratégico que eu fiz em 2017 e lá eu já falava que queria ter tempo pra escrever. Pensa. Só 7 anos depois eu tenho conseguido…).
Mas as coisas mudaram e desde o final do ano passado, quando eu passei no mestrado e decidi fazer um 2024 sabático, longe das redes sociais, eu sabia que a newsletter seria minha companheira. "Sair" do instagram, parar de jogar o jogo, é muito duro. Por mais alívio que também cause, é muito difícil perder relevância, eventos, contatos, dinheiro, seguidores… é muito rápido até você perceber que você era só mais um produto na prateleira. No segundo em que você não dá mais lucro, você é colocada de escanteio. Por outro lado, não estar o tempo todo pensando conteúdo de 30 segundos, me deu tempo e espaço mental pra pensar em outras coisas. E tem sido um caminho muito importante onde a newsletter passou a ter um espaço fundamental, semanal, inegociável.
A verdade-verdadeira é que newsletter, assim como comunidade, não é um fim. É um meio. Diferente do instagram onde você cresce, ganha seguidor, publi, oportunidades de trabalho, aqui é tudo diferente. Ninguém cresce da noite pro dia, é dificílimo monetizar conteúdo no Brasil e, honestamente, o alcance da escrita é infinitamente menor que a de foto e vídeo. Pensar newsletter é, naturalmente, mais desafiador. É uma aposta de longo prazo e que pode não dar em nada.
Aqui vou fazer um parênteses importante que é justamente sobre "dar em nada": Eu, pessoalmente, não tenho nenhum interesse em escrever semanalmente, publicamente, por hobby. Acho ótimo e legítimo quem quer, mas meu hobby não é esse. Eu gosto de ler, ver filme, fazer exercício, beber com meus amigos, dar rolê com as minhas crianças, agarrar meu marido, viajar, tomar sol na praia. Internet pra mim não é hobby. É trabalho. Então, sim, tudo que eu faço precisa "dar em alguma coisa", mesmo que, como eu já disse, o retorno não seja financeiro, exatamente.
No meu negócio a newsletter tem um objetivo muito claro: criar um espaço autoral onde eu possa compartilhar o que eu tô pensando, elaborando, vivendo, trabalhando, de um jeito menos superficial que o instagram. A minha carreira em moda começou justamente porque eu criei um blog que funcionava como portfólio para o que eu estava fazendo. Era lá que eu contava no que eu estava trabalhando, se eu tinha escrito pra alguma revista, o que eu estava estudando e, foi do blog, que vieram todos os meu primeiros trabalhos em moda. Eu conseguia escrever pra sites e revistas porque eu, completamente sem trabalho, criava pautas imaginárias no meu blog. Quando eu ia pedir trabalho, eu mandava o blog e as pessoas conseguiam ver que eu sabia escrever alguma coisa, que eu sabia do que eu tava falando. Foi assim também que consegui minhas primeiras clientes de consultoria de moda - eu já tinha leitoras quando fui estudar consultoria e, quando formei, uma leitora me contratou. E daí em diante, as coisas foram acontecendo…
Acredito que todo mundo que tá começando usa o instagram também desse jeito. O problema, pro que eu faço da vida, é que a linguagem (tanto do instagram quanto do tiktok) funciona numa superficialidade onde eu não caibo mais. Não como portfólio, não como espaço pra concatenar pensamentos. Todas as vezes em que eu me propus a analisar alguma coisa no instagram, deu merda. E dá merda porque tem pouco espaço pra elaborar, pra explicar os pontos, tem sempre alguém que não entende direito. Dá merda porque tá todo mundo ansioso rolando feed e sem tempo pra qualquer coisa que não seja a dancinha com xícara na cabeça ou um look express. E nada contra, só não é o que eu quero fazer agora.
Sem contar a perda de credibilidade. Eu comecei a achar muito dolorido me enxergarem como influenciadora quando, na verdade, eu sempre fui uma especialista no meu tema - que também usava o instagram pra trabalhar. Mas eu sempre tive uma pauta e sempre cheguei com explicações técnicas. Nunca foi sobre bom gostismo. Mas, não adianta, skin influenciadora é muito mais forte e arrasta tudo e todos. Principalmente em moda, que foi o primeiro nicho a monetizar a influência, já lá nos blogs.
Então, sim, eu acredito nesse "formato de meio" que alguns projetos tem na minha carreira. Além da newsletter, podcast é também pra mim um meio. Nuncaaaaa fiz dinheiro com podcast, nem com o Projeto Piloto - que até chegou a ter anunciante, mas nunca deu lucro, no máximo se pagou; muito menos com o Berlinda - que sequer tem esse propósito financeiro. Eu sinto, inclusive, que muitas pessoas erram justamente por não entenderem o "trabalho que viabiliza o trabalho" - que é lento, gera gasto e não lucro, não é garantia de nada e funciona na velocidade de um conta gotas. Vejo muita gente super impaciente porque o podcast tem muitos plays e não dá dinheiro - aliás, muito pouca gente no Brasil consegue monetizar podcast, saiba! Também vejo as pessoas incrédulas porque eu não criei um sistema pago de Substack. Entendo o desconforto, mas nunca foi esse o objetivo. Quando eu formava consultoras de moda, a maior dor era justamente entender que prospectar cliente era tão trabalho quanto atender cliente. E eu entendo 100% esse incômodo porque os boletos não querem saber em que fase do negócio você está. Mas, infelizmente, a fase da paciência costuma ser inegociável.
Porém, o "projeto do meio" (certeza que isso tem um nome técnico nas escolas de negócio que nunca frequentei) só faz sentido se você tiver um objetivo. Se você souber pra onde você quer ir. E, por isso, eu criei as editorias:
primeira semana do mês: internet/redes sociais e afins
segunda semana do mês: estilo pessoal
terceira semana do mês: negócios/comunicação/estratégia de moda e comportamento de consumo feminino
quarta semana do mês: tema livre e mais pessoal
Criei desse jeito porque essas são, a grosso modo, as editorias que falam comigo nesse momento. Eu não quero e não vou abandonar estilo pessoal, por exemplo. Tem 10 anos que penso, estudo e falo sobre isso. Meu mestrado, de alguma maneira, é sobre o que as pessoas vestem na vida real. Mas como eu tenho lido e estudado muito sobre outros temas, se eu não prestar atenção, eu deixo de falar sobre essa tema que é tão rico pra mim.
Por outro lado, eu quero falar mais de negócios, comunicação e estratégia porque é pra esse universo que eu tô migrando. E eu desejo, sim, que a newsletter me ajude a abrir ainda mais essa nova porta. Eu sou muito ruim de cavar networking, eu sou melhor trabalhando. Então eu trabalho e torço pra que seja suficiente.
E, expandindo o olhar, essas editorias se retroalimentam. Quando eu falo de internet e rede sociais, invariavelmente eu falo também de consumo, quando eu penso estilo pessoal, é impossível não pensar em negócios de moda - eu sei muito sobre o que as mulheres compram justamente porque eu passei 10 anos fazendo compras com mulheres. Não foram 10 dias e nem 10 clientes. Foi muito tempo! Muita gente! Offline, na casa das pessoas e também online e também nos cursos que eu dou e também nos workshops presenciais que fiz viajando o Brasil… Eu não teria insight de consumo só estudando - como eu tenho feito - o que faz diferença na minha entrega é, de fato, meu "tempo de vôo" com mulheres.
Hoje, terceira semana do mês, eu enviaria uma newsletter sobre SHEIN - mas, aos 45 do segundo tempo, apareceu um contato via linkedin, da SHEIN e eu quero tentar fazer uma conversa com a marca antes de enviar esse conteúdo. Puxei então esse tema que já tava muito quente dentro de mim. E paciência. Vai acontecer sempre. Aliás, eu duvido, inclusive, que eu consiga cumprir o meu planejamento porque os temas também são vivos, cada semana uma coisa diferente tá rolando em mim e no mundo. Mas, ter esse norte, me ajuda a não perder nada de vista.
A ideia, então, A PRINCÍPIO - tudo sempre pode mudar haha - é não cobrar pela newsletter. É fazer com frequência e comprometimento, pensar temas que sejam interessantes pra mim e também pra vocês, contar com o movimento natural de que conteúdo bom gera interesse genuíno e torcer pra que ela, realmente, seja um meio para outros trabalhos.
E, pra além de tudo isso, eu realmente gosto muito de estar aqui, de ter uma semana pra pensar no tema, fazer pesquisas, sentar e escrever. Ainda me sinto em processo de adaptação nessa vida nova onde eu não to 100% do tempo aparecendo, fazendo stories-foto-vídeo. Acho uma delícia pensar mais e falar menos. Mas, sim, ainda me sinto desaparecendo nas redes sociais e sigo lidando com isso - horas bem, horas mal.
Ter uma periodicidade pra escrever, uma editoria, reprogramar meu cérebro pra estar mais no Substack e muito menos no Instagram e no Tiktok, lembrar do quanto a minha vida offline é legal e relevante, o quanto estou cultivando coisas importantes pra mim, mas que só vão dar frutos no longo prazo, lembrar todo dia que pra fazer diferente é preciso ficar confortável no desconforto: é essa lista de coisas que eu repasso comigo mesma, todo dia, pra viver uma vida tão diferente, com uma rotina tão diferente, do que eu estava acostumada. É justamente ir encontrando outra agenda e outros tempos - de novo, nenhuma newsletter "acontece" da noite pro dia.
Aproveitei essa conversa e já coloquei aqui um alerta para em maio de 2025 voltar nessa conversa e contar em que pé esse "negócio do meio" está 🙂.
Se tiver alguma dúvida, manda aí!
Aproveita e compartilha a news!!! <3
Beijos e até semana que vem,
Thais
Acho muito interessante que, pra mim, fica muito evidente sua verve acadêmica. Também tenho nervoso dessa superficialidade do Instagram. Parece que os temas importantes são e devem ser tratados por lá quando, na verdade, o que mais acontece é a dissolução dos conceitos com o objetivo de que eles sejam entendidos de forma “palatável” pela audiência (sem ofender minimamente o jeitinho de ver o mundo já estabelecido de cada um) – daí surgem as aberrações de tudo ser “empoderamento”, “lugar”, “subjetividade” e afins. Mil vezes ter um espaço que eu paro e leio com profundidade, de uma pessoa que sabe do que tá falando, do que se engajar com picuinha de achista por lá. Sou uma ferrenha apoiadora da News e espero que seus planos de mantê-las numa cadência consigam se concretizar porque nós também ganhamos muito! 💖
Como órfã dos blogs estou amando a nova (antiga) era das newsletters. estava por aqui no mingau ta de férias e desde a primeira news.. e realmente tem muita informação preciosa.
Você já era acadêmica tentando se resumir em poucos caracteres :)
Acha que o berlinda e o contato com a Vivi e o Amuri ajudou nessa decisão de ficar mais off? tem algum dos episódios que eu lembro deles entrando nisso e você de certa forma reticente.
Mas acho um caminho tão saudável para todos.. e que bom que temos a news :)