Confesso que comecei a pensar esse tema, que eu amo, e pensei que cês iam tudo me largar aqui sozinha porque, pós pandemia, ninguém aguenta mais ouvir falar sobre "roupa pra ficar em casa". Por outro lado, 38% da população brasileira, em 2024, ainda trabalha em formato remoto. Em São Paulo, 64% dos trabalhadores fazem home office pelo menos um dia da semana - é muita coisa! Na paralela, eu sinto, no meu dia a dia de trabalho, com as minhas alunas do curso "Encontre seu Estilo" e com todo mundo com quem eu falo na internet, que passamos a ficar mais tempo em casa depois da pandemia.
Fiz uma pesquisa, muito recentemente, para uma plataforma de moda e tudo que vi e li a respeito (vou deixar alguns links no fim da news) era sobre como as marcas de moda estão, já há alguns anos, invadindo o mercado de "coisas para casa". E não é à toa, a gente tem mesmo sentido mais vontade cuidar da casa, ficar em casa e isso, obviamente, muda a roupa que a gente veste.
Pensa só: numa semana de trabalho tradicional, fora do home office, a maior parcela do nosso armário fica (ou deveria ficar) comprometido com "roupa de trabalho". Mesmo num trabalho mais democrático e sem dress codes, a gente segue algumas regras (mesmo que sejam mais pessoais) pra ir trabalhar. Na consultoria de moda, a gente sempre calcula quanto tempo cada pessoa passa em uma determinada atividade pra pensar quanto daquele "tipo de roupa" ela tem que ter no armário. Mesmo que uma peça se sobreponha em função, óbvio, porque quem pensa roupa com intenção não deixa o armário ser tão segmentado. Mas, fato é que, tem que ter mais "roupa que funciona pro trabalho" que biquíni - a não ser, claro, que você seja salva vida baywatch ;)
E, bom, com o trabalho remoto, pandemia, pós pandemia, vontade de ficar em casa, todos esses fatores juntos, a gente precisa considerar a roupa de ficar em casa. E eu não quero cagar regra, mas eu quero dizer que, cada dia mais, eu amooooo roupa de ficar em casa. Aliás, essa news quase foi só sobre pijama que, dentre as variáveis das "roupas de ficar em casa" o pijama ganha demais meu coração.
Eu sinto que as pessoas se sentem comprando uma roupa que é um patrimônio ou dando um presente valioso (na seara "moda", né) quando é uma roupa de festa, um sapato de salto ou uma bolsa sofisticada. Entendo totalmente, mas será que é isso, mesmo? Vou lançar aqui hoje a ideia que o luxo, pra mim, é ter roupas deliciosas pra ficar hiper confortável e aconchegante na minha companhia.
Segue o raciocínio comigo: todo mundo compra primeiro a roupa que vai sair na rua - seja trabalho, festa, praia. A gente se veste também para ser visto, afinal de contas, roupa não é uma escolha superficial, "os trecos nos criam", diria o antropólogo Daniel Miller. Então, quando escolhemos qual roupa vamos usar para não sermos vistas, estamos negociando com o luxo. Primeiro o luxo de sobrar dinheiro para comprar roupa especialmente para esse momento - e não só usar peças surradas que sobraram de outras atividades, mas que nem sempre funcionam bem pras atividades domésticas (seja lavar, passar, cuidar dos filhos ou ver série, ler, estudar, fazer reunião no zoom). E isso, no Brasil, é luxo. Sem sombra de dúvida, é pra poucos.
Fato é que no geral, estar em casa nos dá outra camada de liberdade e também de necessidade. Roupa pra brincar com criança não é roupa de sentar o dia inteiro em um escritório com ar condicionado. Pro bem ou pro mal.
Mas, pra além de tudo isso, sabe o que eu mais amo em roupa de ficar em casa? Acredito que, podendo escolher, é ela, de verdade, que fala muito sobre quem somos. "São as coisas que a pessoa escolhe livremente que devem defini-la, não as coisas que ela tem que fazer. A liberdade me parece central na autoconstrução." também uma aspas do Daniel Miller no livro "Trecos, Troços e Coisas - Estudos Antropológicos Sobre Cultura Material".
Tá tudo bem não querer gastar dinheiro pra roupa de ficar em casa, é luxo, mesmo. E luxo é supérfluo. Mas, se houver aí espaço pra mudança, eu acho que vale a pena avaliar a ideia de gastar mais dinheiro em roupas que você usa mais vezes. Ou que vai usar poucas vezes, mas pela vida toda DE VERDADE (tipo um vestido de festa que funcionará pra vários eventos diferentes, ao longo de muitos anos!). Luxo é supérfluo, mas comprar um sapato pra usar em um casamento e só usá-lo essa única vez é desperdício.
Nessa linha de pensamento, entram os pijamas. Dormir é importante demais, dormir gostosinha, com uma roupa que nos deixa confortáveis, é o ápice do auto-conforto. Eu demorei muito tempo pra entender qual é o pijama ideal pra mim. Eu ganhava muito pijama de presente da minha família e usava esses, depois, passei a usar camisetas - porque entendi que odiava dormir de camisa (aliás, eu já fiz um reels sobre isso haha
Não uso camisa pra dormir nem quando tô amamentando… Odeio também dormir de alcinha - mesmo no alto verão, alça fininha não é o meu rolê. Detesto pijama de tecido sintético, mesmo quando é mega tecnológico. Também não gosto de seda, acho gelado hahaha. Até que cheguei nos que uso hoje, que são próximos de perfeito, ainda dá pra melhorar, mas já são excelentes. Resumindo, eu gosto, mesmo, é de algodão. Eles não são nada chiques ou elaborados - queria que fossem, admito, mas não são. Meus pijamas também não são sexy… quando é pra ser sexy eu durmo pelada, faz mais o meu estilo. Não durmo com roupa de renda nem se me pagar um cachê em dólar. Eu até tenho umas coisas de renda chantilly lindíssimas, mas eu uso na rua. Eu penso a roupa de dormir assim: se desse pra transformar o meu hidratante para o corpo em uma roupa, como ela seria? Hahahaha E a resposta precisa ser essa sensação de abraço.
A vida já é muito difícil pra ficar dormindo desconfortável, sinceramente.
Por fim, eu, de verdade, sugiro que você invista na roupa que passa mais tempo no seu corpo. Se for num trabalho presencial, que seja. Se for na roupa de ficar em casa, excelente. Roupa precisa ser primeiro pra gente e só depois pro outro. Roupa precisa facilitar e melhorar nossa vida, não dificultar. Itens confortáveis e funcionais não precisam ser caríssimos, no geral, é mais sobre prestar atenção nesse tema (e atenção também demanda tempo, eu sei) do que sair passando cartão. Não precisa ter uma imensa variedade de coisas e também não precisa ser tudo feio e sem graça. Dá pra ter o seu estilo.
Na minha opinião, roupa que não é pra sair de casa, é um carinho com a gente. É uma forma que eu encontrei de dizer pra mim mesma que o tempo que eu passo comigo mesma importa. Que roupa não é e nem precisa ser só performance social, pode ser sobre falar de mim pra mim mesma.
Organiza aí o seu acervo pessoal (amo falar acervo pessoal e me sinto 100% a GenZ que não sou, romantizando a vida cotidiana haha) e monta seu espaço pra roupas pra ficar/trabalhar/dormir em casa.
Algumas dicas de coisas que funcionam pra mim:
Peças de algodão da Hering: amo as ceroulas e as camisetas masculinas pra dormir. Tem que checar porque tem camiseta que não é 100% algodão.
Intimissimi, Hope Resort… todas essas marcas tem roupa mais "loungewear".
Amo as peças da Zara Home, tenho um conjunto de lá que é podre de chique, quero muitos outros.
Se você quiser investir, tem sempre a Trousseau.
Roupa de fazer exercícios costuma funcionar super bem pra quem tem uma rotina em casa mais ativa. Minha dica aqui é variar os esportes: roupa de jogar tênis, body e meia calça de ballet, calças de yoga… entende qual seu estilo e quão confortável você se sente com essas peças.
Conjunto de short e camisa manga curta de algodão: adoro! Uso a camisa aberta, com top por baixo ou fechada até em cima com cabelo presinho pra fazer zoom. Sucesso.
Pro inverno, eu sou 100% conjuntinhos, acho prático e bonito. Uso conjunto de moletom, conjunto de tricot e, quando eu for rica, usarei conjunto de cashemere - se, até lá, ainda existir inverno.
Também amo vestidos simples, reto, só vestir. Tenho de algodão pro verão, de tricot, de lã, de moletom.
Deixa mais dicas aí nos comentários! Vou adorar saber <3
Links sobre marcas de moda investindo em produtos pra casa:
https://exame.com/pme/depois-de-beleza-e-bem-estar-amaro-passa-a-vender-produtos-para-casa/
https://www.businessoffashion.com/briefings/luxury/why-are-fashion-brands-piling-into-homeware/
dia desses tava vendo uma loja on-line com minha mãe e eu disse: olha, mãe, esse vestido quero comprar pra ficar em casa. E ela: sério? em casa eu uso só roupa velha. kkkk . esse é o retrato de alguém trabalhando 100% em casa (eu) e alguém que sai todo dia pra trabalhar (mamãe). E eu tenho pensado tanto nisso, mas ainda não tinha elaborado bem, sabe? Vestir uma roupa confortável sim, mas por que não pode ser nova e/ou bonita? Afinal, é assim que tenho me visto no espelho todos os dias e cansei de me ver sempre com roupas feias que perderam a categoria de "roupa pra sair". Parece uma roupa rebaixada. Gostei das tuas pontuações, a respeito do que faz mais sentido pra cada um e amei as dicas de lojas. Eu to doando coisas boas e lindas, mesmo, mas que não faziam mais sentido pra mim, pelo teletrabalho. E com isso, tenho adquirido coisas mais "home office". Minha família tá amando meu desapego, rs
Estou ha tempos nessa parcela de gente que tem tempo par pensar, escolher e decidir qual a melhor roupa pra ficar em casa!
Adoro uma seda sedutora! Mas o algodão, claro, é o melhor companheiro, em peças sem botões (to contigo contra a camisa pra domir), assim como não entendo calças com a boca reta/larga, que sobem e embolam _ por favor Jogê, Hope... façam opções de calças com a barra estreita!!!