Eu não lembro quando foi que comecei a usar só preto. Foi depois que o Mig nasceu, mas foi acontecendo, sem muita intenção - e nada na minha vida tinha muita intenção nessa época. Eu só sentia e fazia, o que é bom e ruim, mas nada disso importa pra esse texto aqui.
Mas eu lembro exatamente quando eu resolvi incluir o branco no armário. Foi início de 2022. Não aconteceu nada demais, mas eu cansei de usar só preto e não tinha mais nada que me brilhasse os olhos. Eu defino quase tudo na vida assim: se para de me dar tesão, eu repenso. Eu já tinha misturado todas as texturas, comprimentos e ideias possíveis em preto. Não existia nenhuma peça que eu já não tivesse em preto - o que era ótimo, mas nunca me permitia experimentar mais nada e eu gosto muito de novidade. Sentia até que meu trabalho perdia inovação porque eu não tinha mais nada pra testar.
E, 2022 foi também um ano de eleição. A grande eleição dos últimos tempos, certamente. Moda é comunicação sempre, a roupa que eu visto é sempre uma conversa que quero ter, mas nas eleições foi muito maior. Tava todo mundo falando uma mesma língua. Vermelho simboliza muita coisa. A camisa de futebol do Brasil foi sequestrada. E decidi usar só vermelho no espaço entre primeiro e segundo turno. Era tudo ou nada. Na roupa, na unha, na academia. Frequento muitos lugares onde o bolsonarismo é forte e eu vi que a minha roupa tinha um papel fundamental nesse momento.
E eu amei usar vermelho, mas não colou no meu armário.
Eu peguei umas roupas emprestadas na (finada) Roupateca. Comprei uma coisa ou outra (e depois vendi no Enjoei). O vermelho não emplacou nos meus looks pós eleição. Eu, pessoalmente, não sou muito fã de vermelho com preto e meu armário segue muitooo preto. Quando uso vermelho e branco, acho lindo, mas me sentia “não-eu”, afinal, cadê o preto?
Mas, já tem uns meses, eu ando numa paquera mais séria com o vermelho, isso porque:
Eu mudei, tô mudando, tem um mundo imenso que descobri que existe ao longo desse ano. To empolgada, apaixonada, por que não?
Ainda existe muito look pb pra ser feito - ao contrário de quando decidi sair do all black. E, racionalmente, eu não sinto falta de nada nos meus looks, no meu armário. Mas eu to afim de me divertir mais e senti que, entre outras coisas, o vermelho é isso pra mim.
Eu já não me sinto mais “não eu” quando uso vermelho e branco, por exemplo. Ou tudo branco. Ou tudo vermelho. Não preciso mais estar com alguma coisa em preto - me dá até tremedeira escrever isso, me sinto traindo o preto, haha. Mas é isso, essa fase passou.
A verdade é que tem muitas cores que eu gosto e tô ensaiando colocar no armário, mas preciso fazer com calma porque eu sei exatamente como me sinto quando eu misturo coisa demais: fantasiada. E eu odeio. E depois vira um monte de coisa que eu tenho que vender, doar e ficar culpada pelo dinheiro e recursos desperdiçados. Quero, não, gracias. Mas, sim, eu tenho amado os fluorescentes: verde limão, rosa, amarelo… até comprei um tênis laranja - sempre usei sapato e bolsa de outras cores, mas laranja eu sempre odiei. Quédizê: eu mudo muito de ideia, até de ideia visual.
Roupa é também isso: uma chance da gente se divertir e ser criativa no dia a dia. Dá pra ser mais legal, gaiato, leve e fácil do que, em geral, estilo-moda-tendência é tratado.
Semana passada eu fiquei numa imersão super intensa num projeto da MESA com uma marca de moda. E lá, onde não usamos telefone e estamos o dia inteiro concentrados no trabalho, eu fiquei pensando muito sobre o quanto dá pra ser mais criativo e divertido sempre. Criatividade foi o tema dos meus últimos meses, dos últimos anos, talvez.
Uma das coisas que eu fiz na semana passada foi prototipar manualmente novas peças - não posso contar a marca, nem qual era o produto, nem nada mais, mas foi isso: metade do tempo eu passei fazendo trabalhos manuais. E quando me vi precisando criar coisas materiais, de verdade, com deadline muito definido, sem ajuda de celular, sem poder contratar meu dream time, eu precisei ser menos pragmática e testar mais e mexer nas coisas. Pensar menos, testar mais. É muito maluco e também óbvio e clichê, mas criação é totalmente sobre diversão. Testar a maluquice, fazer o que não faz sentido, empilhar materiais que não combinam. Não tem outro jeito e é legal demais abrir mão (ainda que temporariamente) de fazer dar certo. Fazer errado, testar o absurdo, é delicioso.
Dá pra testar o absurdo também na sua casa, com o seu armário, misturando tudo.
Pra essa newsletter eu pensei que você podia testar então 2 coisas: usar seu armário de um jeito completamente diferente, sem pensar se tá frio ou calor, sem pensar em realmente sair com um look. Só pirando, só testando, só exercitando seu cérebro criativo. Tipo criança, o propósito é só se divertir.
Por outro lado, vale a pena pensar o que você gostaria de vestir ano que vem. Pra chegar nessa resposta, se pergunte:
O que eu adorei vestir esse ano?
O que eu não adorei?
O que muda na minha vida/rotina/desejo/sonho pra 2024?
Pensando que "se não for um sim absoluto, é um não absoluto", o que você escolhe?
Um direito-privilégio que eu não abro mão é o de escolher. Se eu tenho escolha, eu escolho. Ativamente. Uma década vestindo mulheres reais me fizeram entender que muitaaaas vezes a gente deixa passar oportunidades de escolher usar uma roupa que ia fazer a gente mais feliz. A gente só aceita o que tá posto, mesmo quando não é obrigada a. Escolha.
Semana que vem eu volto com os meus favoritos do ano - queria muito ter feito essa news semana passada, mas não rolou. Eu tô amando a vida mais offline e amando poder demorar pra chegar aqui, pra chegar sem pressa e com textão.
– só pra lembrar que quinta é o último dia pra comprar o Básico com Borogodó, meu curso que te ensina rapidex como achar o seu borogodó e incrementar seus básicos. último dia mesmo porque esse curso vai se aposentar :)
To amando as newsletters, tira um pouco a gente dessa loucura das redes sociais. Espero que demore pra você enjoar rs
Eu vou me propor a fazer esses testes que você indicou, obrigada!
Todos os outros 3 comentários começam com AMEI e eu venho pra complementar que AMEI a reflexão. Eu uso preto há mais de 15 anos, pq em algum momento da vida eu achei que trabalhar numa grande empresa canadense de cosméticos era o que ia mudar minha vida e comecei a transformar meu guarda roupas ali. Não fui. Mas permaneceu e hoje sou feliz com a escolha. Inseri o branco por motivos religiosos e segui nessa mistura. Sigo bem feliz com essa escolha e uso MUITO um tênis laranja também pra dar um contraste as vezes. Ele tá quase no fim, coitadinho Haha
Mas AMEI muito que vc trouxe a semana da MESA pra cá (e AMEI ver o print do IG ali 🙂).
Que bom que além de ser trabalho, agregou pra suas percepções pessoais também. Vai ser muito divertido e agregador te acompanhar nesse 2024 de mudanças.
Seguiremos te acompanhando e nos inspirando (para além da moda)⚡️